Uma vida para o xadrez.

25 05 2009

por Jeferson Peres

Do alto de seus 22 anos o MI brasileiro Krikor Sevag Mekhitarian fala ao Xadrez de Guarujá sobre sua vida, xadrez e expectativas. Krikor revela além de muita simpatia e entusiasmo alguns empolgantes detalhes da tragetória de alguém que acredita no futuro do esporte.

Xadrez de Guarujá: Quem é Krikor Sevag?

Krikor: Sou paulistano, nascido em 15 de Novembro de 1986. Tenho origem armênia, por parte de pai e mãe. Atualmente curso o último ano de administração de empresas, no Mackenzie-SP. Me formo em Dezembro agora. Gosto muito de seriados, ouço música de tudo que é tipo – principalmente eletrônica e latina. Moro na cidade onde nasci até hoje, mas sempre tive e ainda tenho vontade de me mudar para o interior.

Xadrez de Guarujá: O que é o xadrez e o que ele fez por ti?

Krikor: O xadrez deve representar uns 80% da minha vida até hoje. Por meio dele, já fui a diversas cidades e países que eu nunca imaginaria conhecer, tive contato com pessoas de todas as idades e regiões do Brasil e do mundo. Gosto de pensar que ao longo desses 16 anos de prática (aprendi aos 6), fiz uma faculdade de graduação, um mestrado e um doutorado nesse esporte. Abri mão de muitas coisas para me dedicar integralmente, mas cresci muito desde o primeiro momento e não me arrependo de ter vivido dessa maneira até hoje.

Krikor à esquerda contra o ´GM Raphael Leitão na final do campeonato brasileiro de 2008 em Recife.

Krikor contra o GM Rafael Leitão na final do campeonato brasileiro de 2008 em Recife.

Xadrez de Guarujá: Como você aprendeu a jogar?

Krikor: Aprendi aos 6 anos – em 1992 – com o meu pai (que conhecia o jogo por causa do meu tio, muitos e muitos anos atrás. Hoje, meu tio, que mora na Espanha, sempre foi e sempre será um amante do xadrez e deve ter seus 1800 de força). Eu gostava muito de quebra-cabeças nessa idade, e certo dia, tive a brilhante (ou estúpida?) idéia de montá-lo com as peças viradas para baixo. Daí meu pai imaginou que poderia ser uma idéia me ensinar os movimentos desse novo jogo. Depois de muitas e muitas e muitas derrotas contra ele, comecei a ter aulas e aos poucos aquele passatempo se transformou em grande parte do que eu sou hoje.

Xadrez de Guarujá: Como tu te preparas?

Krikor: Nesses últimos anos, já tive diferentes fases quanto ao estudo. Em certas épocas, foquei mais em livros de finais, outras em livros de partidas, e durante certo tempo, eu só resolvia problemas artísticos. Entretanto, algo que eu nunca deixei de fazer (desde, digamos 2004, quando comecei a me dedicar bem mais por conta própria), foi a preparação de aberturas e análise de partidas recentes junto ao Chessbase. Esse último tópico me deixa em ótimas condições de ter um xadrez competitivo, utilizando-se de material novo e sempre com o repertório de aberturas em dia. Agora, é importante que fique claro, que antes dessa dedicação às aberturas, é necessária uma base bem reforçada com análise de partidas de ex-campeões do mundo, estudo de finais básicos e variados, e muito, muito, muito cálculo, que é uma área bastante menosprezada por muitos e faz uma diferença estratosférica na prática. Basicamente pelo fato de que toda uma preparação de abertura e todo um plano perfeito no meio-jogo pode ir abaixo com uma falha tática. Por isso, aí vai a dica para quem esteja motivado a dedicar-se: as aberturas são importantes, mas de fato são um diferencial apenas depois do nível de 2300, 2400. Até lá, um bom conhecimento estratégico, um cálculo afiado e uma noção boa de finais não vão te deixar na mão.

Krikor contra Neuris Delgado em 2008 na Colômbia.

Krikor contra Neuris Delgado em 2008 na Colômbia.

Xadrez de Guarujá: Que dicas tu tens pra crianças que estão aprendendo agora e querem competir?

Krikor: As últimas dicas acima são direcionadas para um nível já mais avançado. Para as crianças, o que eu gosto de ressaltar sempre é que o xadrez, deve ser praticado com prazer, acima de tudo. Afinal das contas, ninguém gosta de fazer o que não quer né? Parece meio óbvio, mas na prática não é. Eu falo isso, pois muita gente que está começando, e de fato está motivada, acaba parando cedo por razões diferentes. Às vezes, pressão dos familiares, outras vezes pode ocorrer um esforço muito grande para certo campeonato e a frustração que vem depois, em caso de não sucesso é muito negativa. Por isso, antes de mais nada, divirtam-se. Se parece chato treinar, tente fazer com que o treino não seja um momento de chatice, mas sim algo agradável e divertido a se fazer. Durante as partidas, se você fica entediado de tanto pensar (pedir a uma criança que fique 100% do tempo concentrada a partida toda não é algo saudável), pense na vida, lembre de uma música. E claro, dê o melhor que você puder de si.

Xadrez de Guarujá: Pra ti, o esporte, ou o xadrez pode ter uma função de inclusão social?

Krikor:Acredito que o xadrez principalmente pode ter essa função. Como estudos provam, e muita gente já está careca de saber, esse nosso esporte traz muitos benefícios, como melhora de concentração, facilidade de raciocínio, etc. Esses benefícios são uma forte arma para difundir o xadrez Brasil afora, e se adicionarmos os inúmeros projetos de xadrez nas escolas pelo país, é possível enxergar que a inclusão social vem acontecendo em escalas cada vez maiores. O xadrez tem esse poder de melhorar habilidades e porque não dizer – melhorar as pessoas. Em caso do xadrez conseguir um espaço forte na mídia (talvez com a exibição de partidas com ritmo de tempo mais curto e socialização do aprendizado do jogo), as iniciativas públicas se multiplicarão mais rapidamente, e com o setor privado enxergando uma oportunidade, inúmeras portas serão abertas para todos que praticam – aqueles que estão começando, e outros que já estão em nível principiante, intermediário ou avançado.

Xadrez de Guarujá:Pra ti, qual o futuro do xadrez frente ao avanço tecnológico e a internet?

Krikor:Muita gente gosta de acreditar que o xadrez um dia vai ser refutado por completo e vamos ter que mudar as regras, mudar a formação inicial das peças. Na minha opinião, isso não vai acontecer, se continuarmos com nossos cérebros como eles são hoje. Mesmo se uma máquina revolucionária hiper-mega potente aprofunde-se ao máximo, na prática temos emoções em jogo, um tempo limitado e um cérebro que não funciona tão linearmente como um computador. Acredito sim, que cada vez mais, no xadrez de alto nível, a preparação de abertura será mais importante (como já é atualmente), e a posse de uma máquina mais potente é um detalhezinho a mais para quem já conhece o jogo de ponta a ponta. Hoje em dia, a Internet dá a possibilidade para qualquer pessoa em qualquer parte do mundo, entrar em contato com praticamente todo o material de ponta disponível. E o fato disso ser tão distante da realidade de 15, 20 anos atrás. Tenho certeza que a revolução está apenas começando. Novos talentos surgirão cada vez mais precocemente, e daqui um tempo, ninguém se impressionará com a trajetória de Carlsen, Karjakin. Posso estar sendo um pouco radical, mas depois que minha prima de 9 anos começou a me dar uma aula avançada de como mexer no orkut e no photoshop, não duvido de mais nada.


Ações

Information

Uma resposta

11 12 2009
Giovanni Vescovi é o novo campeão brasileiro de xadrez. « Xadrez de Guarujá.

[…] dos destaques da competição foi a obtenção da 1° norma de GM do já MI Krikor Sevag Mekhitarian, que terminou a competição em 4° lugar com 7,5 […]

Deixe um comentário